quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Déjà vu (Parte IV)


Em qual rua eu estava? Perderam-me. Aff. Era pra você estar me esperando na padaria ou na rua. Num vi ninguém.
Cheguei ao alto da cidade. Eram duas ruas compridas que começavam meio juntas, como num vértice de um triângulo e que iam se afastando. Havia uma estação de trem e uma rodoviária, lá em cima.
Mas a rua é a outra, eu subi na rua errada, disse a mim mesmo. Acho que vou atravessar. À medida que as duas ruas se afastavam, outras tantas surgiam como degraus em uma escada.
O velho falou: - Deixa que eu faço isso. Ele num queria era ficar com o outro velhinho, logo percebi. Queria ir de bondinho. - Não, deixa comigo, respondi.
Saí do carro e peguei uma bicicleta. Quase no fim da ruela transversal olhei pra baixo. Parecia um bar. Três homens pelados tomando cerveja. Bem abaixo. Era um bar, com um banco de areia encostado em uma parede. Muito doido. Os caras eram magros pra caramba. Nos ombros de um deles, parecia que dois caranguejos haviam sido colocados debaixo da pele. Tatuagem tridimensional? Perguntei-me. Olhei ao lado, outro rapaz mais magro ainda. Um pênis minúsculo podia ser visto. Talvez fosse um hermafrodita. Órgão externo e interno, juntos. Estranho, muito estranho. Nada incomum com o terceiro moço. Perguntei-me: porque estariam pelados? Bar de nudismo? Coisa estranha. Vixe, deixa eu ir embora, pensei comigo mesmo. Devo ligar pra você. Devia.
Onde você estaria? Talvez com sua amiga psicóloga. Sei lá. Do celular inda avistei seu nome. Liguei. Sua vó atendeu. Naquele instante lembrei-me de tê-la conhecido. Na verdade a vi como se o celular fosse um tele transportador.
Ela perguntou: - quem é? Respondi perguntando: - é a dona Cora? Ela disse que sim. Falei que lhe procurava e ela me informou que havia trocado de celular. Fiquei com a sensação de conhecê-la. Cabelos branquinhos. Magrinha. Linda, como você um dia. O futuro no passado. Ou o contrário? Porque será que não gosto daquela cidade? Acho que nunca mais volto lá. Ah, se eu pudesse!
Era isso. Jeans e camiseta. Psicólogas japonesas. Saias e sapatos. Tudo muito certinho. Bonito até.
Hoje eu sonhei contigo, mas você nunca fala comigo.
Janeiro de 2010
Por gguimalem (gana)

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