quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Déjà vu (Parte I)

Nenhuma verdade me machuca
Nenhum motivo me corrói
Até se eu ficar só na vontade, já não dói (
Peu Sousa / Pitty)

A gente estava numa cidade grande. Lembro-me que você se instalara em uma casa bem pequena. Só um quarto, com uma grande varanda. O piso de cimento, escoras de madeiras e muitas plantas. Uma cena me chamou a atenção. Era noite, perto da casa um bêbado de muletas, sem uma perna tentava se equilibrar. “Pinga derruba, pinga derruba”. Caiu. Tentamos levantá-lo. “Não falei que pinga derruba?”
Era engraçado. Era muito triste. Era noite.
Seu cabelo, não o dele, grande e fino, como macarrão em uma sopa. Saboroso. Não é que pinga derruba mesmo? Queria comer, mas quem comia era você. Seu cabelo macio, cheiroso. Qual seria mesmo o gosto?
Saímos para conhecer a cidade. Era bom. Já havia estado lá, sozinho. Sem você. Lembrava-me de alguma coisa. O mar, estradas de chão. Você sempre à frente. Caminhando. Sargaço. Uma ilha. Itamaracá. Tudo era novo pra mim. De novo me confundo. Não era eu, não era você. Vários, várias. Cidades, mares. Tantas ilhas. Era noite.
O mar, à noite, tem segredos. Tem o medo. Tem a lua. Parece até que ela olha pra dentro da gente. Seu olhar. Aquele olhar. Graças a Deus nunca mais vi.
Bora conhecer a cidade. Enquanto saíamos, um monte de gente entrava em sua casa. Você permitia. Que estranho.

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