quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Déjà vu (Parte III)

           Perdi-te em uma padaria. Só então percebi que estava com a bolsa de um pintor, manchada de tinta. Coisa estranha.
Fazer sopa de cabelo no banheiro. Cabelo fininho enrolado como um espaguete. Qual era mesmo o gosto?
Aos trezes anos recebi uma carta. 1988. Eu nem era botafogo. Acho que John Lennon morrera, morria. O sonho acabou? Aquela menina perguntava do menino. De Uberaba, de Recife. Recife de novo? Ele tinha ido embora num pássaro grande. Faltou um gesto, um olhar. Um beijo roubado. Foi? Voltava? Menina mais doida. Falava e saía andando. Um cheiro que não ganhei.
Resolvi voltar pra deixar a bolsa em sua casa. Encontrar-nos-íamos depois, na cidade. Quanta gente naquela pequena casa. Era noite. Parecia uma festa. Mas as pessoas, na maioria, estavam deitadas. No chão, nas escadas. Fui até seu quarto. Muita gente. Muita gente. Como pode? Quase não conseguia andar sem que pisasse em alguém. Pisava às vezes. Reclamavam. Ofereceram-me cerveja. Não aceitei.
Saí. Nessa hora percebi alguns velhos misturados aos mais jovens. Gente simples, peões. Menina doida, a casa é pequena, só tem um quarto e ainda chama esse povo todo? Logo ela, que nunca chama ninguém. Nem amigos. Como pode?
Resolvi partir ao seu encontro. Peguei meu carro. Era mais rápido. Lembro-me de um dia lhe oferecer carona em um caminhão.: - Onde você vai? Eu te levo. Lembranças suas, não minhas.
Dois velhinhos entraram comigo no carro. Cada um perseguia um destino. Um lugar. Como eu?
- Vamos, eu num conheço nada aqui, mas se quiserem dou carona. Deixo vocês na cidade. Qualquer lugar é bom, ofereci.
          No Rio é melhor. Lá é diferente. Não gosto de carnaval, no geral. Mas no Rio eu gosto. Não sei bem explicar. Não é o desfile. Nem vou à Sapucaí. Acho que é uma mistura de povo  cena. Como em uma performance. Algo no ar. Tudo no Rio me atrai. Esse ano, não vou. Mas ano que vem não me escapa. Sou Portela, sou Botafogo. Por isso gosto do Paulinho. Deve    ser. E a Marisa então?. “Cariocas são bonitos, cariocas são bacanas. Cariocas são sacanas,   cariocas são dourados...” vixe, mas isso aí num é coisa de gaúcho? Cariocas não gostam   de dias nublados, eu gosto!

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