Perdi-te em uma padaria. Só então
percebi que estava com a bolsa de um pintor, manchada de tinta. Coisa estranha.
Fazer sopa de cabelo
no banheiro. Cabelo fininho enrolado como um espaguete. Qual era mesmo o gosto?
Aos trezes anos
recebi uma carta. 1988. Eu nem era botafogo. Acho que John Lennon morrera,
morria. O sonho acabou? Aquela menina perguntava do menino. De Uberaba, de
Recife. Recife de novo? Ele tinha ido embora num pássaro grande. Faltou um
gesto, um olhar. Um beijo roubado. Foi? Voltava? Menina mais doida. Falava e
saía andando. Um cheiro que não ganhei.
Resolvi voltar pra
deixar a bolsa em sua casa. Encontrar-nos-íamos depois, na cidade. Quanta gente
naquela pequena casa. Era noite. Parecia uma festa. Mas as pessoas, na maioria,
estavam deitadas. No chão, nas escadas. Fui até seu quarto. Muita gente. Muita
gente. Como pode? Quase não conseguia andar sem que pisasse em alguém. Pisava
às vezes. Reclamavam. Ofereceram-me cerveja. Não aceitei.
Saí. Nessa hora percebi
alguns velhos misturados aos mais jovens. Gente simples, peões. Menina doida, a
casa é pequena, só tem um quarto e ainda chama esse povo todo? Logo ela, que
nunca chama ninguém. Nem amigos. Como pode?
Resolvi partir ao seu
encontro. Peguei meu carro. Era mais rápido. Lembro-me de um dia lhe oferecer
carona em um caminhão.: - Onde você vai? Eu te levo. Lembranças suas, não
minhas.
Dois velhinhos
entraram comigo no carro. Cada um perseguia um destino. Um lugar. Como eu?
- Vamos, eu num
conheço nada aqui, mas se quiserem dou carona. Deixo vocês na cidade. Qualquer
lugar é bom, ofereci.
No Rio é melhor. Lá é diferente. Não
gosto de carnaval, no geral. Mas no Rio eu gosto. Não sei bem explicar. Não é o
desfile. Nem vou à Sapucaí. Acho que é uma mistura de povo cena. Como em uma performance. Algo no ar.
Tudo no Rio me atrai. Esse ano, não vou. Mas ano que vem não me escapa. Sou
Portela, sou Botafogo. Por isso gosto do Paulinho. Deve ser. E a Marisa então?. “Cariocas são bonitos, cariocas são bacanas.
Cariocas são sacanas, cariocas são
dourados...” vixe, mas isso aí num é coisa de gaúcho? Cariocas não gostam de dias nublados, eu gosto!
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